A dicotomia entre o bem e o mal parece sempre estar
presente de alguma maneira em Dexter. Apesar de aparentemente parecer uma coisa
ultrapassada, moralista e descontextualizada, a série traz essas discussões de
maneira bem intensa. Hoje uma criança cresce com muito mais senso de ética que
antigamente, mas nossas gerações ainda têm a cultura dicotômica entre certo e
errado.
Então volta a pergunta: Dexter é bom ou mau?
Eu não costumo usar o modelo jornalístico de escrita, que
vai das informações mais importantes para as menos importantes, mas algo nesse
3° episódio está me incomodando e eu não quero adiar. Antes, quero propor uma
discussão: Dexter impediu a Deb de se confessar por motivos próprios ou por
amor a ela?
Por mais que eu rebata a ideia de Dexter como um psicopata, não nego o fato de ele agir
muito em favor de si mesmo. Ele mente. Ele mata. Ele destrói. Se sobrar um
tempo, ele pensa em como o outro vai se sentir. E é nessa linha que a Dra.
Vogel parece querer trabalhar.
A maior aposta de vocês para a personagem dela parece ser
que ela é a psicopata da vez e está manipulando algum paciente para se passar
pelo neurocirurgião. Outros ainda dizem que ela vai tentar convencer a Deb a
matar o Dexter. Já li também que a Hannah é a neurocirurgiã e paciente da
Vogel. Muita conspiração para pouca evidência.
A discussão que propus acima e o papel da Dra. Vogel
estão intimamente interligadas. Parecem-me até agora que a Evelyn acredita que
as reações “emocionais” de Dexter são puramente máscaras e de que não há
sentimento verdadeiro por trás dessas emoções. Segundo a visão “vogeliana”,
Dexter seria um tipo de psicopata que aprendeu a reagir externamente às
situações, mas que no fundo não sente nada.
A resposta para esses questionamentos fazem toda
diferença quando pensamos no futuro da Deb. A cena do jantar me deu indícios de
que a relação consigo mesma e com Dexter aponta para uma melhora. Ela se
sensibilizou com as palavras de seu irmão e o vídeo que ele mostrou. (reparem que o vídeo era uma gravação de
celular, mas tinha cortes kakaka). Evidente que logo depois ela surtou
bêbada e tentou confessar, mas isso só corrobora minha visão.
Deb, em seu novo emprego de merda, nas suas noites de
bebedeiras de merda, no “mimimi meu irmão acabou com minha vida”, está em um
ponto de equilíbrio. Por mais que haja sofrimento, que ela esteja digerindo as
frustrações, ela está numa zona de conforto. Quando Dex tenta trazê-la à
realidade, ela tem duas opções: ou vive com o que fez de maneira escondida e
segue com sua vida, ou se entrega e sofre as consequências.
E sobre Dexter, respondendo a pergunta, eu acredito que
ele tenha impedido sua irmã de confessar pelos dois motivos. Ela acabaria com a
vida dela (mais?) e também com sua vida. No entanto, quem não pensaria em si
mesmo? Não é preciso ausentar ativação no córtex para pensar em não arruinar
sua vida. Nesse sentido, não teríamos como dizer bom ou mau. Algumas coisas são
simplesmente aprendidas e reproduzidas. Outras coisas são necessárias. A noção
de responsabilidade é necessariamente negligenciada. E quando eu digo que algumas coisas são necessárias, a pergunta é "quais coisas?", e então eu vou além do título do episódio: O que está alimentando Dexter Morgan?
Quinn esteve fantástico no episódio. Não pela atuação,
não pelas suas falas, nem nada tão explícito, mas ele é a ponte atual entre o
Dexter e a Deb, e o Dex sabe e reforça isso, como vemos em frases como “você fez a coisa certa ao me chamar”.
Além de ver o bom aproveitamento dos personagens, eu sempre quis que ele
tivesse algo de útil na série ou sumisse logo.
Sobre o verdadeiro neurocirurgião, tem que ser uma pessoa
bem forte ao ponto de conseguir lidar com o corpo do Sussman. Não acredito na
Vogel nem na Hannah como assassinas. Adorei ele ter encontrado esse canibal.
Apesar de ser uma ideia meio louca, senti como se o Dexter tivesse encontrado
dinheiro no bolso.
Sobre a Vogel, acredito que seu papel tenha muito mais a
ver com a parte introspectiva do Dexter, no sentido de mostrar ao personagem (e
principalmente ao público) do que ele realmente é feito. Quais emoções passam
por ele, o que o afeta, o que é mais importante na vida dele. No máximo ela vai
tentar escrever um livro sobre ele, mas seria frustrante, visto que Sal Price
já teve esse papel de escritor de serial killers na série.
A respeito da Deb, não sei o que pensar.
Quanto ao Harrison, com quem ele estava enquanto a Jamie
jantava com o Quinn e o Batista, e o Dexter com a Deb? Meu palpite: ele estava se empanturrando de picolé.
A frase do episódio com certeza foi: “eu consumo todos que amo”. O que isso
nos diz dos próximos episódios?
Aguardo coisa boa.
Die die, dexterous!