Eu me lembro de quando Dexter
contemplou o que chamou de “um calmo oásis no deserto da minha confusão”. Eu me
lembro, também, de quando, na primeira temporada, um episódio terminou com
Dexter falando que uma tempestade estava por vir.
Eu me lembro de várias coisas das
temporadas passadas, especialmente da primeira. Acompanhei de perto a
construção do personagem, o modus
operandi de Dexter. E não estou falando apenas da sua kill room, do corte
no rosto, das lâminas de sangue. Estou falando da sua necessidade de matar, do
seu esforço para manter uma vida social, da vontade de sentir alguma coisa.
Depois de temporadas confusas e descontextualizadas, parece que os produtores
também se lembraram disso.
Muitos não vão concordar comigo, mas
tenho achado a temporada um tanto desnecessária em vários pontos. Há alguns
episódios, quando a Cassie morreu, a Jamie disse para Dex e Deb “eu não sei
como vocês fazem isso todos os dias”, ela estava se referindo a lidar com a
morte. Dexter trabalha com isso e tem um adicional fúnebre de ser assassino.
Por que raios ele chorou tanto a morte da Vogel no episódio passado? E mais:
por que neste episódio ele mal se lembrou da finada?
Apesar de tramas superestimadas
serem descartadas, como o “mistério” da Vogel, que o 8x01 prometeu, Dexter ter
que lidar com Zach de alguma maneira a filha do Masuka e a aproximação da
Cassie com Dexter, os últimos minutos deste episódio deram um bom gás para o
final da série.
Eu estava bastante ansioso para
saber como lidariam com a polícia, com o Elway, Hannah e Saxon. Dexter ter
divulgado os vídeos do neurocirurgião foi uma ótima estratégia. Deb ter ajudado
na captura do assassino foi absolutamente genial! Não apenas pela ideia, mas a
filmagem da cena foi fantástica. Uma tomada rápida e impecável!
O ritual pré-morte que Dexter tem é
sempre intelectualmente produtivo. O insight da noite foi: ele não precisa
matar. Uma coisa que se aprende no estudo do comportamento humano é que ele
segue as leis da natureza. O comportamento é governado por fatores biológicos,
ambientais e culturais. Se esses fatores mudam, o comportamento muda. E quando
eu digo comportamento, eu quero dizer de qualquer tipo: comportamentos
públicos, pensamentos e até comportamentos emocionais.
Uma coisa que a ciência ensina é que
não existem estruturas mentais cristalizadas. Dexter não poderia ser nada além
do fruto do entrelaçamento entre seus fatores biológicos, históricos e
culturais.
O que víamos naquele adolescente
desajeitado cuja primeira vítima foi uma enfermeira e naquele cara que namorava
a Rita era um cara que tinha um repertório comportamental muito restrito. Ele
foi adotado, tinha uma proximidade muito grande com sangue. Nasceu no sangue.
Ele lia sobre psicopatas, se identificava com eles. Harry, para finalizar a
história, fortaleceu todos esses comportamentos inadequados.
Dexter não soube ser ninguém além de
quem ele realmente foi.
Com as experiências de vida, e
principalmente a Hannah, ele percebeu que ele pode aprender a viver coisas
diferentes. Está experimentando uma relação de amor e cumplicidade ao mesmo
tempo (porque amor teve com a Rita e cumplicidade com outras pessoas). Agora
ele tem o Harrison e precisa ser um pai. Com Saxon, ele percebeu que há algum
tempo ele matava porque era o que ele sabia fazer. A necessidade foi deixada de
lado. Desapareceu. Ele aprendeu a fazer outras coisas. Como ele mesmo disse,
ele saiu da escuridão graças à luz que as pessoas em sua vida acenderam. Quando eu disse que os produtores se lembraram da primeiras temporadas, era disso que eu estava falando. A reflexão voltou. Dexter não é mais um alienado sobre si mesmo.
A abdicação da morte de Saxon foi
simbólica, épica! Um jeito de a Deb voltar à polícia em grande estilo. O
federal ter seguido a Deb e acabar sendo esfaqueado pelo Saxon foi outra sacada
muito boa. Como Dexter é um seriado imprevisível, há a possibilidade de o cara
sobreviver, mas eu duvido. Acho que foi uma boa maneira de aliviar a pressão na
fuga de Dexter.
O episódio termina com cenas
absurdamente angustiantes! Chegamos perto do final, a possibilidade de
perdermos a Deb é real. Se fosse um acontecimento no meio da temporada, como
foi a tentativa de suicídio, sabemos que nada aconteceria, que era apenas um “sustinho”.
Dexter tão perto e tão longe de conseguir construir uma nova vida.
Uma tempestade realmente se
aproxima.
Até breve, amigos.
Por:@Gabrielbarros42